Quero
começar dizendo que sou contra o aborto.
Essa
é a parte fácil. Ser contra. Ser a favor. Posições extremas são
simples. Fáceis.
Na
minha adolescência, fiz um trabalho sobre o tema para o colégio.
Pesquisei a fundo, tive a ajuda de parentes que faziam parte de um
grupo anti-aborto que me mandaram um monte de material que descrevia
os vários métodos de aborto, reflexões religiosas e filosóficas,
dados estatísticos, etc.
Tirei
uma nota ótima no trabalho, mas aquelas informações nunca mais me
abandonaram. E a partir delas, fiquei com muita raiva de todas
mulheres que cometiam aborto. Afinal, era um assassinato, o que
tornava essas mulheres criminosas.
Mas
o Destino, esse velho safado que fica se divertindo assistindo a vida
de nós pobres mortais em uma TV gigantesca tomando cerveja, me
pregou uma peça (uma não, várias) e ao longo dos anos, eu tive
amigas que se sentiram a vontade para compartilhar comigo terem
vivido essa experiência.
Aquelas
mulheres não eram os monstros que eu imaginara, eram
mulheres doces, minhas amigas.
Muitas se arrependiam de terem feito um aborto, algumas o fizeram por
riscos a sua própria vida, outras por pressão familiar ou do
namorado, ainda havia as que fizeram por vergonha, como se tivessem
feito algo errado, sem esquecer aquelas que o fizeram por não
considerarem o “momento certo”.
A
maioria delas me contou como seus namorados não se opuseram as suas
decisões, mas também não deram nenhum apoio, no máximo se
ofereciam para pagar o procedimento, quase como se não tivessem, ou
não quisessem nenhuma responsabilidade no ato.
Em
pesquisas recentes, foi divulgado que uma em cada quatro mulheres que
fazem aborto no Brasil morrem no procedimento, na maioria das vezes
em clínicas clandestinas, mas que todo mundo sabe o que fazem, sem
nenhum cuidado ou atendimento diante de uma ação tão agressiva ao
corpo da mulher. Pensar que uma de minhas amigas poderia ser uma das
vítimas dessa estatística me embrulha o estômago.
Lembro
de um dos meus primos que citei no início me contando que muitas das
mulheres que eles abordavam no grupo anti-aborto só precisavam de
uma pessoa dizendo para não fazerem. Isso era tudo o que bastava
para desistirem.
Diante
destes relatos, muitas vezes emocionados, eu comecei a questionar e
refletir.
Será
que todas as mulheres que fazem um aborto estão fazendo isso por
escolha, realmente? E se estiverem, elas teriam realmente o direito
de “fazer o quiserem com seus corpos”, como muitos grupos
pró-aborto propagam? Será que podemos considerar o embrião um ser
vivo ou ele só pode ser assim considerado quando já é um feto
(depois de nove semanas)? Será que se os homens fossem mais
participativos, menos abortos seriam realizados? Ou até teríamos
menos crianças sem uma figura paterna presente (desculpe se estou
divagando, mas acho pertinente? Será que manter o aborto como crime
está fazendo algum bem a sociedade? Afinal, mesmo proibido o aborto
continua acontecendo, e mulheres continuam morrendo na mão de
carniceiros que se dizem médicos. Será que descriminalizar causaria
um aumento dos abortos? E temos números atualmente para comparar? Ou
será que descriminalizar permitiria um acompanhamento psicológico a
essas mulheres que poderiam até mudar de ideia? O embrião ou o feto
(considerando-o como ser vivo) fruto de um estupro poderia ser
penalizado pelo ato do estuprador? E a mulher, deveria ser obrigada a
dar continuidade a uma gravidez não apenas não desejada, mas
decorrente de um ato de violência que deixará marcas que vão além
de seu corpo?
Muitas
perguntas, não tenho respostas.
Na
verdade, apenas uma: No geral, continuo contra o aborto. Mas, como já
disse, essa é a parte fácil.