quarta-feira, 6 de setembro de 2023
Mil Faces de um RPGista - 10 Workers United - Jéssica, Amanda e Débora
Jogo: 10 Workers United
Autoria: Christopher Grey
Editora: Ennead Media Production.
Experiência: Li e achei bem interessante. Espero um dia colocar na mesa.
Livros usados: O único que existe.
Esse jogo surgiu a partir de uma notícia do mundo real. Em setembro de 2019 a Kickstarter (a maior empresa de financiamento coletivo do mundo, caso você tenha acabado de chegar de Marte) demitiu uma série de funcionários que estavam tentando sindicalizar (union em inglês) os trabalhadores da empresa para lutar contra abusos e garantir mais direitos trabalhistas.
O autor então fez esse jogo, colocou em financiamento coletivo direcionando todo o dinheiro obtido para ajudar a financiar a fundação desse mesmo sindicato.
Tá, Sandro, essa história é interessante, mas sobre o que é esse jogo?
É sobre trabalhadores tentando se organizar para conseguir uma posição de poder diante da direção da empresa. Sentiu o nível de Inception aqui? Rs
O sistema se baseia em Ten Candles (um dos maiores sucessos do kickstart entre jogos indies), mas sem as velas e com a mecânica invertida. Em vez dos jogadores começarem com dez dados e irem perdendo um a cada cena, eles começam com um dado e vão ganhando dados a cada cena, representando sua organização e o poder acumulado até conseguirem a sindicalização.
Vamos construir umas trabalhadoras.
Passo Um: Charter. O primeiro passo é dado pela Companhia, que é o Mestre de Jogo nesse RPG. A Companhia define o que a empresa é! Isso é chamado de Charter. Uma vez por sessão a Companhia pode usar isso para anular o sucesso dos jogadores em uma ação. Algo como evocar que os funcionários “vistam a camisa da empresa”, ou ameaçando-os de demissão, ou qualquer outra estratégia sacana que empresas usam para diminuir a capacidade de organização dos trabalhadores.
Deixa eu pensar em uma empresa aqui…
Acho que posso pegar o primeiro exemplo do livro e montar uma empresa cujo Charter é “Software como um serviço”, talvez seja uma empresa estilo uber ou ifood.
Passo Dois: Descrições de Trabalho. Aqui a Companhia define quais posições ela precisa para funcionar, os jogadores poderão escolher um desses empregos. A Companhia pode usar essa descrição para exigir que um jogador re-role todos os seus sucessos, mas só uma vez por personagem.
Vejamos:
- Engenheiro de Software
- Chefe de Marketing
- Supervisor de Depósito
- Coordenador de Entregas
- Representante com os Clientes.
Acho que está bom.
Passo Dois e Meio: Escolhendo sua Função. Aqui é o momento em que os jogadores escolhem suas funções dentro da empresa. Isso não terá nenhum efeito mecânico, mas será importante para a narrativa.
Como já fiz em outros jogos aqui, vou fazer mais de uma personagem. Talvez duas ou três. Isso será importante mais a frente.
Minha primeira personagem se chama Jéssica e é a Engenheira de Software da empresa.
Minha segunda personagem se chama Amanda e é a Supervisora de Depósito.
Por fim, minha terceira personagem se chama Débora e é a Coordenadora de Entregas.
Por que só mulheres? Porque historicamente foram as mulheres quem começaram a se organizar politicamente para as grandes mudanças dos últimos séculos.
Passo Três: Perícia. Agora, cada personagem escolhe uma perícia, escreve em um cartão e coloca na sua frente. Uma perícia pode ser usada para anular o uso de um Charter, de uma Descrição de Trabalho ou para re-rolar todos os seus 1s. Ela só pode ser usada uma vez por jogo também.
A perícia de Jéssica é Planejamento a Longo Prazo.
A perícia de Amanda é Liderança e Organização.
A perícia de Débora é Oratória.
Assim, Débora é alguém que pode falar com as pessoas, Amanda é uma líder e Jéssica terá a capacidade de ver os problemas antes que apareçam. Gostei da combinação.
Passo Quatro: Breaking Point. Esse é o limite de um personagem. Representa algo a ser conseguido antes que essa personagem possa se organizar fazendo parte do sindicato. Deve ser sempre escrito como “Eu não participarei da organização até que…”. Esse Limite pode ser usado para re-rolar todos os dados uma vez por jogo. Uma personagem pode nunca participar da organização do sindicato mesmo que este obtenha sucesso em se formar.
Para Jéssica: “Eu não participarei da organização até que outros façam.”
Para Amanda: “Eu não participarei da organização até que eu seja discriminada.”
Para Débora: “Eu não participarei da organização até que alguém seja demitida.”
Passo Cinco: Solidariedade. Esse é o ponto em que se faz necessário montar mais de uma personagem. Cada personagem escolhe outra personagem e escreve uma característica positiva sobre aquela pessoa. Essa habilidade pode ser usada para que o alvo da sua Solidariedade possa re-rolar todos os seus dados. Como sempre, essa habilidade só pode ser usada uma vez por sessão.
Jéssica tem Solidariedade por Amanda quem ela acha que “É responsável até demais”
Amanda tem Solidariedade por Débora quem ela acha “Comunicativa e divertida”.
Débora tem Solidariedade por Jéssica quem ela acha “Inteligente e Sagaz”.
E é isso. Minhas três trabalhadoras estão prontas para começarem a se organizar e exigirem os seus direitos e de todos os trabalhadores em sua Companhia. Diferente de Ten Candles, 10 Workers United não arruma as habilidades em uma pilha, em vez disso os cartões são colocados um do lado do outro podendo ser usados pela Companhia ou pelas trabalhadoras na ordem que melhor lhes aprouver.
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Company
Charter: Software as a Service
Jéssica
Job Description: Software Engineer
Skill: Long Term Planning
Breaking Point: I will not organize until others do.
Solidarity: Amanda – “She is too much responsible.”
Amanda
Job Description: Warehouse Supervisor.
Skill: Leadership/Organization
Breaking Point: I will not organize until I am discrimanted against.
Solidarity: Débora – “Communicative and easy going.”
Débora
Job Description: Shipping Manager.
Skill: Public Speaking.
Breaking Point: I will not organize until someone is fired.
Solidarity: Jéssica – “Intelligent and wise”.
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