29/8/2013
No momento que escrevo estas palavras estou
sentado em um café dentro do Riocentro, aguardando o início de um
debate com o tema: “Nobos tempos, novos escritores” e sinto meu
coração acelerar ao pensar que sou um destes novos escritores.
Fiz o meu credenciamento como autor no site da
bienal a cerca de uma semana, e desde então fiquei em um estado de
ansiedade e agitação. É a minha primeira bienal como um autor
publicado.
Por várias vezes fiquei imaginando que seria
barrado na entrada, afinal sou apenas um contista, não tenho nem ao
menos um livro com meu nome na capa (ainda!), mas isso tudo se
mostrou uma fantasia da minha cabeça. A verdade é que eu só
relaxei mesmo quando, após mostrar a minha credencial na entrada, o
rapaz fez sinal para que eu entrasse.
Sempre foi tão bonito assim? Ou o meu olhar
estava iluminado por estar ali em uma nova condição?
Dei-me conta agora a pouco que já faz pelo menos
seis anos desde que eu pisava em uma bienal. E tenho a sensação de
que os estandes estão mais arrumados, mais belos, os livros gigantes
pendurados no estande da Novo Conceito são a coisa mais legal que eu
vi até agora.
Enquanto caminhava minha bola foi baixando um
pouco. Ninguém ali sabia que eu era autor. Não haveriam eventos
para mim, eu não daria palestras nem autógrafos.
Ao chegar no estande da Saraiva, vi alguns
terminais para inscrição no Publique-se, sistema de autopublicação
criado por esta livraria/editora para fazer frente aos novos tempos e
ao questionar alguns pontos duvidosos do termo de compromisso aos
atendentes fui interpelado pelo próprio criador da plataforma com
quem troquei alguns argumentos e que soube defender muito bem o seu
peixe.
Saí de lá com a mesma sensação que me
contaminou desde o meu credenciamento pela internet. Que se dane que
ninguém ali soubesse que eu sou um autor, eu sabia! E ninguém
poderia tirar isso de mim.
* * *
O Café Literário foi um pouco
frustrante. Acabou sendo muito mais uma apresentação dos quatro
autores envolvidos, que supostamente representariam a nova geração
de escritores, mas fiquei com a sensação de que o tema proposto
(“Novos tempos, novos escritores) não foi sequer arranhado.
Ao sair de lá, tentei chegar a
tempo no Espaço Ziraldo para assistir a apresentação de uma peça
cantada pelo Menino Maluquinho com histórias de dois livros de seu
criador (Flicts e Bichinho da Maçã), mas quando consegui chegar lá
(após me perder um pouquinho. rs) a apresentação já havia
começado e fiquei sem graça de entrar no meio.
Decidi sair de lá e voltar para
assistir um outro dia.
E
ao sair dali, passei em frente ao estande da Federação das
Associações Muçulmanas do Brasil e fiquei vendo alguns dizeres nos
murais explicativos lá e fui convidado por um expositor para entrar
e conhecer o estande. Lá dentro, após ver alguns livros expostos,
vi que este expositor (chamado Moisés, ou Musla, como ele explicou
depois), estava em um papo animado com um rapaz e uma senhora, que se
revelaram serem um padre chamado Lélio e sua mãe chamada Jussara,
uma figura dourada com opiniões fortes e sem o menor medo de
expressá-las.
Acabamos
formando um grupo de debate que por umas duas horas trocou
informações sobre religião, fanatismo, respeito, etc com a
participação posterior de uma jovem muculmana chama Silvia e um
outro expositor que eu não lembro o nome, mas que todos se referiram
como o carioca (outros expositores eram de São Paulo, Minas, etc).
Saí
de lá com um exemplar do Alcorão Sagrado e a sensação de uma
deliciosa experiência de troca respeitosa de opiniões.
Depois
disso, ao sair da Bienal, tirei a minha credencial de autor e sorri
para ela, guardando-a com cuidado em minha bolsa. A primeira de
muitas, assim espero.