Jogo: Blood Feud Playtest Ver. 1.4 – A Roleplaying Game About Honor, Power and Toxic Masculinity.
Sistema: Uma variante de Belongings Outside Belongings.
Autoria: Alf Peter Malmberg & Amos Johan Persson.
Editora: Bläckfisk Publishing.
Experiência: Só li esse playtest. Ainda não consegui colocar na mesa e não sei se algum dia conseguirei colocá-lo.
Livros usados: A última versão (1.4) do playtest que foi disponibilizada na página do Kickstarter.
Já trouxe alguns RPGs com propostas inusitadas aqui, Blood Feud é um destes. Antes de continuar quero avisar que o texto abaixo fala de temas sensíveis relacionados a masculinidade tóxica. Se tópicos ligados a esse tema te são incômodos ou desagradáveis fica o aviso para que você decida seguir ou não.
Dito isso, Blood Feud é um RPG que tem como proposta de ser mais do que um jogo, uma provocação a reflexão sobre o tema da masculinidade tóxica entranhada em nossa sociedade.
Os jogadores são homens em uma aldeia escandinava em um período pré-cristão. As mecânicas estimulam os personagens a se relacionarem de uma certa forma a fim de conquista Honra, um recurso limitado do jogo. Na estrutura do jogo existe um momento de “debrief”, onde os jogadores relatam como foi a experiência do jogo e fazem correlações com comportamentos que eles mesmos têm ou observam em outros no nosso mundo atual.
Dá pra ver que é um jogo que demanda um certo tipo de grupo, não é?
Bom, vamos fazer um macho escroto… digo, um aldeão escandinavo pré-cristão.
Passo Um: Decidam o Tempo. O primeiro passo do jogo é decidir quanto tempo ele vai durar. Blood Feud é um RPG sem mestre, então o tempo também pode ser decidido para cada cena. O livro sugere quatro horas com meia hora para o “debrief”, o que daria para um grupo de quatro jogadores realizarem cada um duas cenas. Pessoalmente eu recomendaria, um tempo menor para uma primeira partida (se é que vai ter uma segunda), talvez duas horas com cada jogador montando uma cena. Para isso a Honra também teria de ser ajustada.
Passo Dois: Defina Expectativas. Aqui é pedido para cada jogador ou um jogador atuando como facilitador vá passando o livro e lendo trechos onde é explicada a proposta do jogo, o objetivo e o quanto deve se tentar evitar transformar em algum tipo de comédia para fugir do peso que a proposta tem. Também são discutidos os sistemas de segurança a serem utilizados.
Passo Três: Preenchendo a Ficha de Personagem. Enfim chegamos ao personagem em si. Primeiro eu preciso escolher um nome e um apelido para ele. O livro traz uma lista de sugestões, ainda bem.
Apesar de Olaf e Stein me chamarem a atenção eu acho que vou com Hogni. Mas vou deixar Olaf e Stein como os personagens de dois jogadores imaginários que estariam se preparando para jogar comigo. Isso vai ser necessário mais a frente.
Também tenho de escolher um apelido, e daí acho que preciso pensar em quem Hogni é.
Em um primeiro momento pensei em fazer um cara mais sensível, talvez um bardo, mas percebi que isso poderia ser uma tentativa de fuga do tema do jogo. Então pensei “por que não o ferreiro da vila?” e taí. Hogni é o ferreiro da vila, um homem bronco e de poucas palavras. Dou uma olhada na lista de apelidos e escolho Barba Queimada. Hogni já teve sua cota de acidentes na forja.
Preciso decidir entre meus companheiros Quem eu “olho para cima” como adimiração e quem eu “olho para baixo” com menosprezo. Digamos que eu “olho para cima” para Olaf, dono do maior barco de pesca do vilarejo, tenho admiração (e talvez algo mais?) por sua riqueza e o respeito dos aldeões. Eu “olho para baixo” para Stein, que trabalha com couro arrancado dos animais caçados na floresta próxima, vejo sua profissão como inferior a minha e como algo sujo.
Os outros “jogadores” fazem o mesmo. Cada vez que alguém te escolhe como “olho para cima” você ganha um de Honra. Você tem de dividir os jogadores igualmente (ou tão igualmente como possível). Aí eu entendi um dos porquês do jogo sugerir um grupo de quatro pessoas.
Então vamos criar mais um jogador imaginário aqui. Deixa eu ver a lista de nomes de novo. Sven! Sven é um jovem ainda sem barba que vive se metendo em confusão. Ele é filho do dono das minhas de ferro, logo meu personagem tem de se dar bem com o pai dele, mas Sven vai para a lista dos “olho para baixo”.
Eu simplesmente atribui que Olaf e Stein cada um me olhava de uma forma, mas com a entrada e Sven vou mudar isso. Vou rolar um d6 para cada um. Se sair ímpar ele “olha para cima” para mim, se par “olha para baixo”. Rolo 3d6 e tiro 6, 5, 2. Hogni não é muito querido na aldeia então. Rs Eu continuo começando com apenas um de Honra.
Passo Quatro: Criar Quereres. Agora eu seleciono algo que eu quero do jogador a minha esquerda de uma lista dependendo se eu “olho para cima” ou “olho para baixo” para ele. Vou considerar que o jogador a minha esquerda é Olaf, alguém para quem eu olho para cima. Logo de cara penso em pegar “ganhar seu respeito”, mas sigo lendo a lista e acho que “ter o que ele tem” fica mais interessante.
Passo Cinco: Criar um Mapa de Relacionamentos. Nesse ponto os jogadores montam um mapa de relacionamentos entre seus personagens ao mesmo tempo que montam um mapa da aldeia a partir de certos locais chave. Como sou apenas eu, vou pular essa parte.
*
Passo Cinco e meio: Criar uma Mulher. O único ponto desse Passo Cinco que eu não vou pular é o “Criar uma Mulher”. Nesse subpasso os jogadores com personagens casados criam suas esposas, e os solteiros podem criar uma mãe, uma irmã ou filha.
Mulheres nesse jogo tem uma mecânica curiosa. Quando uma cena é montada, um dos jogadores é escolhido para ser uma mulher na cena e toda cena precisa ter uma mulher, tanto que quando a mulher sai de cena ela acaba.
Vou criar a irmã de Hogni, Hedda. Para criar uma mulher nesse jogo você pega um cartão, coloca o nome dela no topo e deixa três linhas em branco. Atrás desse cartão você escreve o que essa mulher quer mais da vida, alguma coisa não relacionada com as questões dos homens. Vou colocar que o maior desejo de Hedda é se lançar ao mar, ir para além dos limites de nossa aldeiazinha.
Agora esse cartão é passado para os três jogadores a minha esquerda e cada um deles escreve na frente do cartão (eles não podem virar o cartão) em uma ou duas palavras uma Reputação que essa mulher tenha. Pode ser algo positivo ou negativo.
Vou dizer que Olaf escreveu “forte”, Stein escreveu “difícil” e Sven colocou “desagradável”. E isso finaliza a personagem.
As únicas formas de alguém ver o que está escrito atrás do cartão é sendo essa mulher em uma cena ou se deitando com ela.
Passo Seis: Preencha Seus Relacionamentos Masculinos. Esse é um ponto estranho do livro. Aqui fala para eu preencher a parte da ficha que fala do meu relacionamento com os personagens dos outros jogadores e NÃO dizer ainda se eu “olho para cima” ou “olho para baixo” para cada um deles. O que entra em contradição com o que o livro propõem lá no Passo Três. Como esse livro é um Playtest imagino que tenha sido uma falha de edição.
Uma outra falha que notei agora é que na ficha tem uma parte de “Traits” que não aparece em nenhum lugar do roteiro do livro, então vou fazer isso agora.
Eu preciso escolher cinco Traits dentre duas colunas. Sendo que eu preciso escolher pelo menos um de cada coluna.
Da coluna da esquerda eu seleciono Eu Tenho um Filho Forte (Finn) e Eu Conheço a Lei.
Da coluna da direita eu escolho Eu Não Tenho Interesse Sexual por Mulheres (Plot-twist) e Eu Temo a Morte.
Preciso escolher mais um. Decido por Eu Sou Casado com uma Mulher, da coluna da esquerda.
Talvez em vez de Hedda ser irmã de Hogni, ela é sua esposa. Eles tiveram uma única relação sexual na sua noite de núpcias e desde então Hogni nunca mais a tocou sexualmente ao mesmo tempo que tenta “colocá-la na linha”.
Passo Sete: Dê um Tempo. O livro diz que cerca de uma hora deve ter se passado a esse ponto e é um bom momento para dar um tempo, respirar, relaxar, se esticar. Tenho de dizer que ele está correto com o tempo que estou levando para escrever esse texto e vou ali me esticar um pouco e depois eu volto.
Passo Oito: Sumarize as Regras. Esse é o ponto em que as regras são explicadas, tanto com os Moves do jogo quanto alguns guias para a montagem de cenas.
Passo Nove: Monte a Primeira Cena. Hogni está trabalhando na forja quando Hedda entra com o prato do almoço. Logo depois Sven entra correndo trazendo uma encomenda de Olaf para aros de barril. Peço ao jogador de Stein que atue como Hedda nessa cena. Se todos estiverem de acordo com essa proposta começamos o jogo.
E é isso. Nossa! Esse jogo foi mais trabalhoso do que eu pensava que seria.
Algumas notas:
1) Após escrever esse texto acho que o tempo de quatro horas é mais adequado, mas não sei se daria para cada jogador montar duas cenas.
2) O jogo demanda uma certa mentalidade e acho que ele funcionaria melhor com um grupo misto de homens e mulheres. Uma mesa só de homens facilmente descambaria para uma comédia de mau gosto.
3) O “Debrief” no final é absolutamente necessário.
4) Mesmo com todas as questões controversas eu ainda gostaria de colocar esse jogo na mesa ao menos uma vez. Acho que, com o grupo certo, pode ser o ponto inicial de uma boa discussão sobre papéis de gênero.
E por hora é isso.
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Hogni “Burned Beard”
Traits
I Have a Strong Son (Finn)
I Know the Law
I am Married to a Woman (Hedda)
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I Have no Sexual Interest in Women
I Fear Death
Male Relationships
Olaf – I look up to him
Stein – I look down to him
Sven – I look down to him
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Hedda
Hedda
Desire: To go away
Reputation: Strong, Difficult, Unpleasant.
Reputation: Strong, Difficult, Unpleasant.
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